Thursday, September 3, 2015

The day JANIS JOPLIN came to town

in 1970, Carnival fell was on 8, 9 and 10 February (Fat Tuesday); Janis Joplin was invited to come down to Rio de Janeiro and enjoy herself during the festivities. And that's what she apparently did. Janis didn't have longer to live: only 8 more months for she died in Los Angeles, on 4 October 1970. Sao Paulo's 'Jornal da Tarde' published this report on Saturday, 14 February 1970


Cabelos molhados, espinhas no rosto, corpo feio cheio de cicatrizes. É Janis Joplin, a cantora de blues, que trocou de biquíni na piscina do Copacabana Palace, xingou e agrediu os repórteres que não a tinham tratado como uma estrela famosa.

Janis Joplin, a cantora de blues mais bem paga do mundo, daqui a uma semana, vai cantar de graça em uma praça da Ipanema, da mesma maneira que fez em um acampamento hippie em New York.

Vi o povo brasileiro nas ruas cantando de uma maneira que não conheço nem nos acampamentos hippies de San Francisco. Estou solidária com ele porque sei como vivem: todos trabalham 5 dias por semana (little did Janis know Brazilians worked 6 days a week, sometimes 7) e devem aproveitar os sábados e os domingos para dançar e cantar. O show eu mesma vou preparar. Vou escolher o que encontrar de melhor no mercado brasileiro e fazer um festival.

Janis Joplin fica triste quando as pessoas pensam que ela é uma pessoa que usa roupas estranhas. Nos Estados Unidos, sua maneira de vestir, falar, cantar e se movimentar em cena, criou escola. Até existem os que se preocupam com as mudanças que, pouco a pouco, estão modificando sua voz.

Há até os que me consideram decadente. Muitos pensam que  minha rouquidão é produto de muita bebida e muito tóxico. Bebo muito, fumo mais ainda, mas não uso tóxicos. Minha voz não é educada porque acho a fórmula palhaçada. A gente tem que cantar com alma (soul), com coração. Atualmente estou mais rouca que nunca e na minha melhor fase. Vou melhor muito daqui em diante, até perder a voz.

Janis se acha uma cantora comum. Todo mundo se veste como hippy, e na hora de cantar faz suas loucuras.

Minha grande arma é a improvisação. Antigamente eu via todo mundo cantar certinho. Comecei a cantar as letras e improvisar a música. Nunca entenderei uma partitura na minha vida, porque acho a coisa mais quadrada em arte. Quem não cria não é artista.

No Brasil, Janis está de férias, veio descansar.  Vai ficar mais uma semana no Rio e depois vai conhecer a Bahia e o Amazonas. Vai comprar muita coisa: bugigangas de artesanato e pedra-sabão. Junto com ela vai um grupo de 10 pessoas, tudo por sua conta. São essas pessoas que procuram a imprensa e falam da importância de Janis, toda vez que ela chega em algum lugar. No Rio, ela ficou hospedada na casa de um fotógrafo brasileiro Ricardo Henrique e ficou zangada porque os repórteres não a procuraram nos primeiros dias. Depois do Carnaval, Janis recebeu os jornalistas  xingando e tentando agredir um fotógrafo. Como ninguém a tinha procurado antes, ela não queria mais dar entrevistas.

Todo esse esquema faz parte do dia-a-dia de Janis. Ricardo, o seu amigo fotógrafo acha que ela tem medo de voltar a ser uma desconhecida, por isso é tão temperamental e agressiva.

- Janis usa perucas roxas e vermelhas. É tímida mas agride os outros e sempre acaba fazendo amigos. No (Theatro) Municipal foi convidada para o camarote presidencial e estava feliz como uma criança ao sair fantasiada. Mas não deixaram ela entrar, dizendo que não conheciam Janis Joplin. Aí, ela ficou sentada no hall chorando como uma criança. Uma empregada a atendeu e ficaram amigas e agora já faz parte de nossa turma. Janis é assim: na hora de entrar em cena, mais parece uma cigana. Fica treinando os gestos, as expressões. Ela quer envolver, esticar os braços como se tivesse apertando todo mundo em um abraço e tivesse consigo fios elétricos para provocar choques. Cada vez mais convencida de que escolheu o melhor caminho. Todos ficam loucos como o que ela faz e Janis fica absolutamente alucinada com isso


Janis, a cantora rebelde

No tempo em que suas amigas de infância ainda freqüentavam o ginásio, Janis viajava pelos Estados Unidos de carona, fumava cigarros de palha e gostava de tomar gim. Tinha apenas 16 anos.

Hoje, com 24 anos, pouca coisa mudou. É a mesma moça agressiva e rebelde da época em que foi presa várias vezes e acordou com um policial que lhe entregava um telefone. Do outro lado da linha estava alguém de sua família protestante e conservadora.

Hoje, já não precisa pedir carona. É Janis – considerada pelos críticos especializados ‘a maior cantora americana da atualidade’ – quem paga as passagens, para ela e os 10 acompanhantes,que viajam com ela.

Também não precisa mais ouvir as queixas da família. É livre para ficar em sua casa – uma das mais bonitas de San Francisco, California – ou viver em acampamentos hippies, quanto tem vontade.
- Mas no fundo, continuo a mesma.

A mesma, para ela, significa ganhar muito dinheiro e gastá-lo todo, viver sem se perguntar se Deus existe ou não, amar muito e dizer a toda hora que as mulheres devem ter a mesma liberdade que os homens.

Quer dizer, liberdade total, de tomar tóxicos, de fazer abortos sem o risco de ser presa.

Antes de ficar famosa, Janis Joplin vivia vivia em ghettos negros, aprendia musicas sacras, lutava pela integração racial. Na sua cidade, já não era aceita pelos brancos; os comitês femininos não queriam ouvi-la cantando em seus clubes.

Tinha de me contentar com as boites underground onde me misturava com os negros, amarelos e peles-vermelhas. Cantava blues, rock’n’roll, música folclórica. E sentia que eram eles que gostavam de mim.

Agora, ela pode pedir muito dinheiro para se apresentar em qualquer auditório, os brancos pagam; ela é uma das poucas cantoras que já cantaram para 500 mil pessoas, como aconteceu no ultimo encontro hippie. E isso os brancos querem ouvir.

Canto musica negra para tirar o dinheiro dos brancos.

As roupas que usava naquele tempo não eram muito diferentes das de hoje. Apenas que, aos 18 anos, ela não tinha dinheiro e era costurando retalhos de roupas velhas que fazia sua roupa para o show. As roupas coloridas, remendadas, que ainda usa agora são compradas.

Daquele tempo, ficaram outras coisas. Por exemplo, a pele ruim, resultado dos sanduíches de bacon que comia como pagamento de suas apresentações.

Não reclamo disso. Até hoje, passo meses sem almoço ou jantar, só com sanduíches de bacon. Na verdade, gosto de minha aparência caótica, de minha pele ruim e enrugada pelos refletores. Prefiro isso aos cremes de beleza. Além do mais, qual jovem americano que não tem rugas só de pensar na Guerra do Vietnã?  

30 January 1970 - a few days earlier - Jornal da Tarde's pop music columnist Ezequiel Neves wrote his review of Janis's breakthrough album 'I got dem ol' kosmic blues mama'. Unfortunately, Ezequiel must have read some US review of the album where they criticize the producer for the lavish use of brass in most tracks, which is exactly why I love this album so much.
Janis Joplin has a ball in Rio de Janeiro 
Janis having a good time watching the Carnaval Parade on Avenida Presidente Vargas.
Janis does her best act in front of the Copacabana Palace... February 1970.
at the beach...
illustrated magazine 'Manchete' on knowing Janis had died of a drug overdose: 'She died like Jimi Hendrix, among drugs & songs!' What a fucking dumb headlight! 24 October 1970.

Janis at Haigh Street in San Francisco in the winter of 1967...

10 comments:

  1. Vc tem um acervo invejável...

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    1. Olá, Guilherme Gustavo. Obrigado pelo comentário... mas o acervo foi 'copiado' do Arquivo do Estado (de S.Paulo) e muitas fotos que peguei em Google mesmo... A gente só 'ajunta' tudo numa página só. Abraços.

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    2. Mas, essa matéria do Jornal da Tarde sobre a Janis é incrível! Como vc conseguiu?
      Abraços.

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    3. Pois é, Guilherme, eu fui ao Arquivo do Estado, na Estação Tietê do Metrô de S.Paulo e pedi para ver o Jornal da Tarde desse dia. Levei minha câmera digital e tirei essas fotos. Voltei lá n'outro dia, e o funcionário disse que não era possivel ver essa coleção do JT pois ela estava em 'estado lastimável'...Daí eu percebi que foi um engano deles qdo. me trouxeram a coleção (é separada em pastas mensais)... Ainda bem que eu fotografei...

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  2. Muita sorte sua ter encontrado esse arquivo. Tão raro de se ver matérias relacionadas à vinda de Janis ao Brasil. Agradeço demais por ter divulgado!

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  3. Pois é Guilherme, na verdade, qdo. Janis esteve no Rio de Janeiro ela ainda não era muito conhecida no Brasil, mas apenas por aqueles que seguiam rock e blues, que dava para contar nos dedos. Qdo. eu dei aula de inglês no Fisk (1974-1979) fiz amizade com um americano chamado Michael Mingucci, que tinha servido no Vietnam e qdo. Janis esteve no Rio, trabalhava de 'guardinha' na Embaixada dos USA lá... e teve contacto com ela. Não me lembro de detalhes do encontro deles, mas v. vê que Janis era tremendamente comunicativa.

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  4. Ah, meu deus é sério?... Daria tudo por uma oportunidade dessa. Por incrível q pareça, meu avô tbm viu ela. ele trabalhava para a revista manchete e morava no Rio... ele viu Janis na Avenida Presidente Vargas pulando Carnaval. Me disse q nunca havia visto uma pessoa tão colorida, barulhenta e chamativa.

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    1. Então seu avô estava ali perto da Janis na Avenida Presidente Vargas... note que o rapaz do lado direito é o Big Boy, DJ carioca que morreu novo também.

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    2. Sim, ele me disse que ela acompanhou um pouco dos desfiles do palanque da Revista e depois desceu pro meio do povo... queria participar do desfile, mas quase foi presa. Verdade mesmo, o Big Boy tbm acompanhou a passagem do Mick Jagger pelo Rio em 69.

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    3. Por falar no Mick Jagger em 1969, eu me lembro que ele foi visto perto da Galeria Metrópole, em São Paulo... não sei quem me contou isso.

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